Está a enfrentar um processo de perda e não sabe como lidar com o mesmo? Descubra formas de dar um novo significado à sua vida.
O luto é um processo natural e pode estar relacionado com a morte de uma pessoa próxima ou animal, o fim de um relacionamento, perda de um emprego ou mesmo alguma mudança que altera profundamente a nossa realidade.
Uma das perguntas mais comuns está relacionada com a duração do luto. Não há um tempo estabelecido, pois cada pessoa vive a sua perda de forma única. Algumas pessoas podem sentir melhorias no seu bem-estar em poucos meses, enquanto outras podem demorar anos para se adaptar à nova realidade. O importante é respeitar o próprio ritmo e procurar apoio, quando necessário.

As Etapas do Luto
O luto não segue um percurso linear, mas frequentemente é descrito em cinco etapas identificadas por Elisabeth Kübler-Ross (psiquiatra suíça conhecida pelo seu trabalho em torno da desmistificação da morte):
Negação – Dificuldade em aceitar a perda, como um mecanismo de defesa contra a dor intensa. “Isto não pode estar a acontecer”
Raiva – Sentimentos de revolta, injustiça ou frustração estão presentes. “Por que é que isto está a acontecer comigo?”
Negociação – Tentativa de procurar soluções ou fazer acordos internos para lidar com a dor. “Se eu tivesse feito isto…”, “ Se eu fizer isto…”
Depressão – Profunda tristeza, isolamento e sensação de vazio. “Qual é o sentido de continuar a viver depois disto?”
Aceitação – Adaptação à nova realidade, permitindo seguir em frente. “Sei o que aconteceu, consigo aceitar e agora só preciso de viver com isso. Vai ficar tudo bem”.

Numa fase inicial, o que o psicólogo faz em consulta é ajudar a identificar estas fases no seu processo de luto, caso esteja ou já tenha passado por alguma delas.
Sintomas Comuns do Luto
Manifestando-se de diversas formas, estes sintomas podem ser:
Emocionais: tristeza profunda, angústia, culpa, irritabilidade, ansiedade ou apatia.
Sintomas físicos: fadiga, insónia, alterações no apetite ou dores no corpo.
Alterações no comportamento: isolamento social, dificuldade em realizar atividades diárias…
Impacto cognitivo: dificuldade de concentração, pensamentos recorrentes sobre a perda, sensação de irrealidade.
O psicólogo também o ajuda a compreender e a exteriorizar o que sente, permitindo-lhe ganhar uma maior noção das suas emoções, sensações e medos.

Algumas estratégias para adotar no seu dia-a-dia:
Permita-se sentir - Evite reprimir emoções. O luto é um processo natural, sentir e expressar tristeza, raiva ou saudade é fundamental para o processo.
Crie rituais de despedida - Escrever uma carta, visitar um local significativo ou fazer uma homenagem simbólica pode ajudar na aceitação da perda.
Cuide do seu corpo - Manter uma alimentação saudável, praticar exercício físico e uma rotina de sono adequada são essenciais para o equilíbrio emocional.
Mantenha-se conectado - Manter uma rede social próxima (conversar com amigos, familiares ou um psicólogo, pode trazer apoio e conforto).
Dedique-se a atividades significativas - Tente manter uma ou duas atividades de que gosta, aposte num passatempo/hobby que sempre quis iniciar, criando momentos de lazer (fundamentais para o seu bem-estar).
Explore formas de expressão - A arte, a escrita ou a música podem ser formas de expressar aquilo que sente (é comprovado por vários autores e em diferentes estudos da área do luto que a expressão artística ajuda a lidar com a dor da perda e a dar um significado à mesma).

A Metáfora da Mala Pesada
A Inês (nome fictício) sempre gostou de viajar, mas nunca imaginou que um dia faria uma viagem tão difícil. Quando perdeu alguém que amava, sentiu-se como uma viajante forçada a carregar uma mala pesada demais. No início, tentou ignorá-la, arrastando-a consigo para todo o lado. Mas a cada passo, sentia o peso aumentar, tornando cada movimento mais difícil.
Havia dias em que queria simplesmente parar e sentar-se à beira da estrada, sem forças para continuar. Noutros, tentava empurrar a mala para um canto, fingindo que não existia, mas ela estava sempre lá.
Com o tempo, a Inês percebeu que não se podia livrar dela, mas podia aprender a arrumá-la. Assim o fez, com calma, abriu e começou a arrumar o que tinha lá dentro. Algumas coisas eram demasiado pesadas para carregar todos os dias, decidindo deixá-las para trás. Outras, pequenas e valiosas, guardou num bolso especial, a que podia ter acesso sempre que precisasse. A mala nunca ficou completamente leve, mas, lentamente, tornou-se mais fácil de transportar e a Inês entendeu que, apesar do peso, ainda podia seguir viagem. De certa forma, o que a Inês fez, foi dar um novo significado à sua perda, uma vez que a deixou de ver de forma tão pesada, incorporando-a na sua vida.
O luto é assim: no início, sentimos que a dor nos impede de seguir em frente. Mas, com o tempo, aprendemos a carregar a perda de uma forma diferente — sem esquecer, mas sem deixar que ela nos impeça de caminhar.

Viktoriya Doroshenko - Psicóloga - Psicoterapeuta
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