É comum ouvirmos histórias sobre pessoas que experimentaram substâncias como a cocaína e acabaram presas num ciclo vicioso. Mas o que torna a Cocaína uma substância tão perigosa? E, mais importante, como as consultas de psicologia podem ajudar nesses casos?
Por que a cocaína é tão atraente?
A cocaína é conhecida por causar uma sensação intensa de prazer e euforia. Para quem se encontra a enfrentar momentos difíceis, essa "fuga" pode parecer irresistível. Mas o problema começa justamente aí: o cérebro associa a substância ao alívio imediato e passa a "pedir" mais. Assim, o que começa como algo que a pessoa gosta, pode rapidamente se transformar em algo que ela sente que precisa.
O papel do psicólogo
Quando falamos sobre o prazer que a substância fornece, estamos a falar da procura de algo: alívio, distração, sensação de controlo ou mesmo de pertença em certos grupos sociais. Durante as consultas de psicologia, um dos primeiros passos é ajudar a pessoa a entender o que está por trás desse comportamento. Ou seja, qual é verdadeiramente a função desse comportamento (o consumo), o que se sente, o que se tenta não sentir e se existirá alguma alternativa de alcançar o que quer sentir, sem recorrer à substância. Essas reflexões ajudam a pessoa a se conectar consigo mesma e a identificar padrões que, muitas vezes, ela não percebe sozinha.
Um dia, em consulta, um cliente dizia-me “O meu problema é que eu gosto”, o que muitas vezes difere das afirmações “Eu nem gosto de fumar/consumir, mas é o vício”. E é este “gostar”, este “prazer”, o verdadeiro desafio do caminho da dependência.
O que pode ser feito em consulta?
Em consulta, para além de ser criado um espaço seguro em que a pessoa pode falar, sem julgamentos, faz-se a identificação dos gatilhos que levam ao uso da substância (seja este o stress no trabalho, conflitos familiares ou mesmo a solidão). Para além disto, trabalham-se todas as questões que possam anteceder o início deste consumo, seja a infância/adolescência, a autoestima, um luto difícil, a falta de controlo de impulsos, a tristeza/depressão, o desamparo, etc.
Cria-se, em conjunto, um plano de ação, que passa por introduzir alternativas saudáveis e a assertividade, para que a pessoa se sinta mais capaz de controlar o seu desejo ou até de dizer “não” quando se sente influenciada a consumir.
Além de outras questões, cria-se um plano de prevenção de recaída, em que a premissa principal passa por compreender que a recaída pode acontecer durante o processo mas não significa que é o fim do caminho.
Mas atenção, é muito importante perceber que…
Tal como retirar um peixe doente do aquário, observá-lo e tratá-lo, sem limpar o aquário sujo em que se encontrava, aumenta a probabilidade de ele adoecer novamente, o mesmo acontece com as pessoas. Ou seja, não adianta apenas tratar a pessoa e os seus sintomas, sem olhar para o ambiente em que ele está inserido (a raiz do problema talvez).
É fundamental perceber se a dinâmica familiar poderá prejudicar esta recuperação, se a rotina ou o grupo de amigos propicia este comportamento e perceber que tipo de mudança deve ser feita.
Se você ou alguém que conhece está a enfrentar dificuldades relacionadas com a dependência de cocaína ou outra substância, não hesite em procurar ajuda. O primeiro passo pode ser difícil, mas é também o mais importante para recuperar o controlo sobre a sua vida.
Viktoriya Doroshenko - Psicóloga - Psicoterapeuta
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